Thursday 2 October 2008

Cotação do Dólar

E por aqui o sistema financeiro continua especulando e brincando com a vida de todos. Segue artigo comentando os acontecimentos por aqui...

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Análise: Superávit cambial desativa pânico

Luiz Sérgio Guimarães - Valor Econômico

SÃO PAULO - A balança cambial de setembro mostra que a decolagem do dólar no mercado interno foi forjada pela especulação, já que não houve saída líquida de recursos do país.

A moeda disparou 16,45% no mês passado, engordando os caixas dos "comprados" à vista (bancos nacionais) e "comprados" no futuro ("hedge funds" estrangeiros).

Nem a temida contração do crédito externo, nem uma suposta debandada de investidores estrangeiros em busca de refúgios seguros pode ser invocada para justificar a alta diante dos números divulgados ontem pelo Banco Central. Eles ainda são parciais, mas se referem à maior parte de setembro e englobam o período crítico da turbulência mais recente, desencadeada no dia 16 pelo colapso do banco americano Lehman Brothers.

O fluxo cambial até o dia 26 foi superavitário em US$ 2,75 bilhões. O déficit financeiro de US$ 3,51 bilhões foi amplamente coberto pelo saldo comercial de US$ 6,26 bilhões. "Não está faltando dólares no mercado de câmbio brasileiro. A taxa está subindo por causa do cassino. Alguém precisa dizer para o presidente Lula que não é só lá nos EUA que tem cassino, aqui também temos e pelo jeito tem muita gente no vermelho", diz o economista Sidney Nehme, diretor da NGO Câmbio.

A saída de dólares do país nos primeiros 20 dias úteis do mês passado foi de fato impressionante - US$ 30,95 bilhões -, mas as entradas, de US$ 27,442 bilhões, não decepcionaram. A face comercial persistiu desativando a tecla do pânico. Os exportadores, não obstante as alegações de falta de linhas, fecharam contratos no valor de US$ 17,55 bilhões, enquanto os importadores se satisfizeram com US$ 11,295 bilhões.

Enquanto isso, bancos e investidores estrangeiros ampliavam suas posições "compradas" (aposta de alta do dólar, muito bem-sucedida em setembro). O capital estrangeiro encerrou o mês "comprado" liquidamente entre os pregões de dólar futuro e cupom cambial em US$ 6,185 bilhões. Qual a posição no primeiro dia de setembro? "Vendida" em US$ 3,05 bilhões.

O fluxo desmente contágio capaz de exigir medidas anticrise por parte do governo brasileiro. Ele desautoriza elevações de juros em linhas de crédito. E dissipa os temores relacionados a pressões cambiais sobre a inflação que exigiriam prontas respostas altistas da política monetária.

E se forem olhadas as reservas internacionais brasileiras nesse momento caracterizado pelo ápice (até agora) da tormenta externa? Elas subiram de US$ 205,12 bilhões no último dia de agosto para US$ 206,49 bilhões no último de setembro.

Se o fluxo cambial - a contabilidade de tudo que entra e sai do país - está superavitário e as reservas cresceram, que crise é essa? Pode ser a pior desde a de 1930, mas por enquanto não justifica tecnicamente a valorização registrada pelo dólar em setembro. Outubro não começou de maneira diferente. Ontem, a moeda subiu 1,10%, cotada a R$ 1,9250.

Como a contaminação cambial inexiste, os juros futuros podem estar caindo pelo motivo errado. No mercado interbancário de reais, pode estar havendo um empoçamento de liquidez, destinado a forçar o BC a reduzir ainda mais as alíquotas dos compulsórios bancários, muitas vezes confundido com uma contração geral do crédito capaz de desaquecer a demanda e levar o Copom a iniciar logo o ciclo de declínio da taxa Selic.

Mas como o fundamento é frágil - fuga de capital e retração de linhas externas, dois fatores não confirmados pelo fluxo cambial -, a tendência declinante pode ser revertida com a mesma rapidez. O CDI para a virada do ano caiu 0,03 ponto, para 13,98%, enquanto o contrato mais negociado, para janeiro de 2010, recuou 0,10 ponto, para 14,37%.

O Brasil parece menos afetado pela aversão global a risco que eleva os preços dos títulos do Tesouro americano e derruba as taxas. Ontem, o juro do papel de dez anos recuou de 3,8234% para 3,7401%, enquanto o de cinco anos cedeu de 2,9759% para 2,8580%.

O dia mesclou indicadores positivos sobre o lado real da economia americana e um bem negativo. Este foi o ISM (Institute for Supply Management) relativo ao setor manufatureiro em setembro. A projeção dos analistas era de um índice de 49,5, mas ele registrou pesada contração a 43,5 pontos, o pior desde outubro de 2001.

Os outros dois vieram não tão ruins. O mercado de trabalho mostra-se melhor do que o esperado pelos analistas. Pelo dado semanal da Automatic Data Processing (ADP) 8 mil vagas foram extintas, quando se projetava diminuição de 53 mil. E os gastos com construção ficaram estáveis em agosto. As estimativas dos economistas eram de uma redução de 0,50%.


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